Queimadas em Rondônia aumentam 44% em 2024 e provocam crise de saúde e ambiental
Queimadas em Rondônia aumentam 44,16% em 2024, levando a hospitalizações e cancelamentos de voos. Autoridades intensificam ações para mitigar os danos ambientais.

No Parque Estadual de Guajará-Mirim, uma castanheira solitária se destaca em meio a um cenário devastado por queimadas. Entre junho e setembro, em Rondônia, a estiagem e as queimadas são frequentes, e em 2024, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 10.692 focos de queimadas no estado, o que representa um aumento de 44,16% em comparação ao ano anterior. A fumaça resultante dessas queimadas tem afetado a saúde da população, com aumento no número de internações e atendimentos por crises respiratórias. O impacto se estende ao setor aéreo, com voos sendo cancelados e aeroportos sendo fechados, enquanto o ar se torna cada vez mais poluído.
No ano passado, Porto Velho, a capital do estado, registrou a pior qualidade do ar do país, superando até grandes centros urbanos como São Paulo e Manaus. O município de São Francisco do Guaporé, lar da comunidade quilombola Pedras Negras, ficou meses sem a luz do sol, devido à concentração de fumaça, que alcançou níveis alarmantes.
A situação foi exacerbada pela grilagem de terras e pelo desmatamento, impulsionados por um cenário de crime organizado, frequentemente apoiado por setores do agronegócio. Em 2024, aproximadamente 1,4 milhão de hectares foram queimados, um aumento de 72% em relação a 2023.
Em resposta à crise ambiental, o Ministério Público de Rondônia (MPRO) intensificou suas ações em 2024 para garantir a aplicação da Lei de Crimes Ambientais. Um total de 52 ações civis públicas foram movidas para desintrusar áreas protegidas e reverter os danos causados pelo desmatamento ilegal, que incluem pedidos de indenização que totalizam quase R$ 614 milhões.
De forma proativa, o MPRO recomendou a suspensão de todas as autorizações para queimadas por 90 dias. Essa medida teve um impacto significativo e forçou o governo a agir, suspendendo temporariamente a prática do uso do fogo.
A 'Operação Temporã', coordenada pelo MPRO e apoiada por diversas forças de segurança e órgãos ambientais, teve como objetivo combater os incêndios florestais. Com a participação de mais de 300 agentes e a colaboração de diferentes instituições, a operação resultou na redução de 87% de focos de calor no estado em relação ao ano anterior.
Além da primeira fase da operação, a segunda fase também foi bem-sucedida, resultando em importantes apreensões e a fiscalização de 355 atividades de crimes ambientais, além do bloqueio de R$ 77 milhões em recursos ligados a essas práticas. As ações do MPRO geraram uma redução de 78% nos focos de calor em Terras Indígenas.
Os esforços contínuos de diálogo entre autoridades e a sociedade civil também foram benéficos, permitindo que vozes variadas pudessem discutir medidas para evitar novas crises ambientais. A introdução de tecnologia de mapeamento também facilitou o reconhecimentos rápido de desmatamento e queimadas.
Múltiplas operações e iniciativas interinstitucionais demonstraram resultados positivos, e moradores de Porto Velho relataram uma melhoria significativa na qualidade do ar em 2025, comparado ao caos de 2024. As autoridades destacaram que a presença do Estado e o diálogo constante foram fundamentais para restaurar a qualidade de vida na região.
Com a expectativa de mais estiagem e mudanças climáticas para 2026, as autoridades planejam intensificar a fiscalização e monitoramento. A esperança é que com a atuação conjunta e a continuidade dos esforços, o futuro em Rondônia seja mais promissor e menos afetado por práticas criminosas que ameaçam o meio ambiente e a saúde pública.