Artista rondoniense expõe em Paris reflexões sobre identidade e memória ancestral

O artista rondoniense Jorge Feitosa apresenta em Paris sua primeira exposição individual, explorando identidade amazônica e memória ancestral através de 22 obras.

Artista rondoniense expõe em Paris reflexões sobre identidade e memória ancestral

O artista visual Jorge Feitosa, natural de Rondônia, realizará a exposição Viagem: Matéria, Rito e Memória Ancestral em Paris entre os dias 23 e 28 de outubro. A mostra acontecerá no espaço pop-up da Bianca Boeckel Galeria, localizado no 38 Rue des Gravilliers, no bairro do Marais, conhecido por sua intensa atividade artística. Este evento marca a primeira exposição individual de Feitosa na capital francesa.

A exposição contará com 22 obras produzidas entre 2012 e 2025, englobando uma série inédita de pinturas, fotoperformances, esculturas e um objeto. Além dessas, o trabalho também incluirá projeções de registros videográficos de performances do artista realizadas entre 2012 e 2013.

Feitosa inverte a narrativa histórica dos viajantes do século XIX que cruzaram o Atlântico em busca de imagens do 'Novo Mundo'. Ao invés disso, ele traz à tona reflexões sobre identidade amazônica, memória ancestral e sustentabilidade. As pinturas de Feitosa utilizam argila extraída do Rio Madeira, refletindo uma conexão profunda com seu local de origem e substituindo tintas convencionais por materiais locais.

'A cor terrosa que domina a maior parte de minhas obras carrega o peso literal e simbólico da terra', afirma Feitosa. Este trabalho representa um gesto de pertencimento que destaca a relação intrínseca entre corpo, território e memória.

As fotoperformances realizadas em 2017 também exploram essa territorialidade, onde o artista, coberto de argila e adornos naturais, estabelece uma fusão entre o humano e o meio ambiente, criando experiências que ressoam como rituais.

As obras escultóricas da exposição refletem as contradições entre natureza e civilização. Na série Kintsugi, fragmendtos de ossos de peixes são banhados em folhas de ouro, explorando a questão da valorização das cicatrizes e a transformação de restos em algo permanente, inspirado pela técnica japonesa que repara cerâmicas quebradas.

'As esculturas dialogam com a memória do garimpo no Rio Madeira na década de 1980, quando a extração de ouro causou grandes danos ao meio ambiente e às comunidades locais', explica o artista. Essas obras propõem uma reflexão sobre o que se rompe, o que permanece e as possibilidades de renascimento.

Uma das peças centrais da mostra é um objeto que apresenta uma antiga cédula de mil cruzeiros, que traz a imagem do explorador Cândido Rondon ao lado de uma representação de um casal indígena Karajá. Este contraste revela distorções na narrativa histórica, tornando o dinheiro um símbolo das hierarquias de memória.

A exposição convida o público a refletir sobre conflitos éticos globais, propondo novos modos de relacionamento com a natureza. Feitosa acredita que o legado de antigos viajantes pode servir de apelo por um olhar mais consciente em relação ao Brasil e aos povos nativos.

'A unidade entre as obras se baseia em conexões temáticas que perpassam minha trajetória artística', conclui Feitosa, destacando a constante presença das questões de identidade e da Amazônia em seu trabalho.

Jorge Feitosa nasceu em 1969 em Porto Velho e, desde jovem, envolveu-se com as artes. Graduou-se em Artes Visuais e em sua carreira, já participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, sendo conhecido por suas performances, fotografias e vídeos que abordam temas de identidade e natureza.

Fonte da imagem: Divulgação

Fonte das informações: Assessoria